Dia dos Pais
O Dia dos Pais está chegando. Por enquanto você ainda não entende o que isso significa, filho, mas um dia eu sei que você vai questionar. Eu pretendo me preparar para este dia, consultando um profissional, terapeuta, psicólogo, analista, amigos, parentes, os deuses e principalmente minha consciência. Pretendo mais que tudo me colocar no seu lugar e pensar no que é melhor pra você.
Essa é uma situação em que a prioridade é você – na real, depois que você nasceu, você é prioridade em tudo e ponto; não posso levar em consideração nada do que eu senti com tudo o que ocorreu, o que significa que simplesmente não interessa o que passou. Só quero que você saiba que seu genitor sempre foi ciente da sua existência e que a qualquer momento que ele quiser participar dela ele será bem-vindo, como eu sempre deixei claro desde o início da gravidez. Nós nunca mais nos falamos, eu não fiz a menor questão de obrigá-lo a participar do seu nascimento nem de registrar você e espero que você um dia entenda que fiz isso com a melhor das intenções, sem rancor ou represália. Um nome em um campo de um documento não cria vínculo, não cria presença nem forma um pai. Essa atitude tem de vir espontaneamente, de coração, e não por imposição da justiça ou por uma questão de responsabilidade pelos próprios atos.
Como disse uma pessoa querida que viveu a mesma situação, a família se adapta para suprir a falta de um elemento; há uma presença maior dos tios, do avô, dos amigos, todos formando um elo de amor em torno de você. Por enquanto você está muito bem suprido de figura masculina, porque nós moramos com os meus pais e você tem sua cota diária de testosterona e “carinho paterno-vovozal” com o meu pai e eventualmente com seus tios, mas eu tenho me preparado para cumprir o meu papel de mãe e também o de pai. Estou disposta até a jogar futebol com você se for preciso, apesar de saber que ser pai não se limita a isso, mas vou dar o meu melhor.
Vou fazer o possível para que você encare tudo isso com naturalidade, o que acredito que vá ajudar a afastar o preconceito. Atualmente há núcleos familiares super diversos, com dois pais, duas mães, somente um pai, somente uma mãe, então não há que se insistir no velho modelo tradicional quando isso não é possível. Você é filho de uma mãe solo e nem por isso deixamos de ser uma família; não há nenhuma pecha de vergonha nisso, não é certo ou errado, é só diferente, simples assim.
Hoje seu genitor não tem vínculo com a nossa família. Pode ser que um dia vocês estabeleçam este vínculo, ou não. Não sei quais os motivos que o levaram a não fazer parte da sua existência, só sei que eu quis muito que você fizesse parte da minha e por isso você nasceu. E eu quis tanto, mas tanto que quis por mim e por ele, então no Dia dos Pais, eu me sinto no direito de comemorar tanto quanto no Dia das Mães.
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