sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A primeira convulsão a gente nunca esquece

Filho, você não fugiu a regra dos Nascimento e quase matou sua mãe e suas tias de susto no feriado de 15 de novembro de 2012. Nós fomos pro sítio aproveitar o feriado e comemorar o aniversário do Vovôveraldo e estava tudo bem; chegamos na quarta-feira, na quinta fomos pra piscina, brincamos, etc. Chegou a hora do seu cochilinho da manhã, você dormiu mais ou menos 1 horinha como de costume e quando acordou fui te pegar para almoçar e você estava fervendo de febre.
Te dei uma dose de Tylenol e tirei sua temperatura, 39 graus! Corri e te entreguei pra tia Carol te segurar, ela estava numa ressaca brava da noite anterior, mas mesmo assim alguma coisa me disse pra te entregar pra ela, mesmo a tia Fernanda estando por perto e sem ressaca. Fui encher a banheira pra ajudar a baixar a febre e neste meio tempo a tia Carol veio correndo da sala gritando pra abrir o chuveiro porque você estava convulsionando. Ela entrou embaixo do chuveiro de roupa e tudo com você no colo, e eu ajudando a te molhar, desesperada em te ver com espasmos, olhos virando e sem consciência. Ainda bem que meu instinto, intuição, anjo da guarda ou o que quer que seja me disse pra te entregar pra tia Carol, porque acho que nem eu nem a tia Fe teríamos sangue frio ou presença de espírito pra saber o que fazer quando você começou a convulsionar.
Pegamos o carro e fomos pra cidade, tia Carol dirigindo, eu rezando alto, a tia Fernanda me acalmando e antes de chegar na porteira você parou com os espasmos e começou a voltar a si, aí eu me acalmei pra não te assustar e fiquei falando, “mamãe ta aqui, ta tudo bem”.
Cruzamos com o vovô e a vovó no caminho e eles foram nos encontrar no Posto de Saúde – pois é, em São Paulo moramos em frente ao Hospital 9 de Julho e você tem uma convulsão no sítio, a quilômetros da cidade onde não tem nem hospital, só um posto de saúde com uma médica residente que parecia ter 15 anos e tinha as unhas pintadas com florzinhas! Rs...
Chegando no posto, eu entrei pela porta errada (entrada de ambulâncias) e subi um degrau quase da minha altura com você no colo – até hoje não sei como consegui fazer isso, tendo em vista meus vários anos de sedentarismo e notória moleza. Você tomou uma injeção de dipirona e duas enfermeiras te espetaram umas cinco vezes pra tentar conseguir um acesso para soro e acabaram conseguindo no seu pezinho, mas a médica não conseguiu ver sua garganta porque você não deixou.
Aos poucos você foi voltando ao seu normal, mas estava muito incomodado e não queria ficar quieto, só sossegou quando eu comecei a cantar nossas musiquinhas com você no meu colo, então a tia Fe foi até o sítio e buscou uma mamadeira de leite e outra de água de coco, que você tomou inteirinha. Ficamos no posto enquanto você tomava soro e depois voltamos pro sítio, onde você dormiu a tarde toda.
Depois que acordou, teve febre de novo e voltamos para o posto de saúde, onde você tomou outra injeção de dipirona e quando chorou a médica conseguiu ver sua garganta, que estava inflamada e era o que causava a febre. Entramos com antibiótico (você nunca tinha tomado nada antes) e você melhorou rapidinho, apesar de ter de acordar todo dia às 6 da manhã pra tomar o remédio e de passar a dormir na minha cama naquela semana checando sua temperatura de 10 em 10 minutos, como boa mãe de primeira viagem apavorada.

Keep Walking

 Filho, você começou a andar sozinho exatamente no dia em que completou um ano e dois meses; antes você andava apoiado nos móveis ou de mãos dadas, mas neste dia você se soltou e saiu disparado, fazia até curvas!
Eu acredito que o que te motivou foi o Theo e o Gab, que você queria acompanhar. Você andava com os bracinhos pra cima, mãozinhas fechadas e os pezinhos abertos, parecendo um pinguinzinho gingando.
Com o tempo você começou a brincar de pega-pega comigo, me perseguindo pela sala às gargalhadas enquanto eu corria de um lado para o outro. Você também adora perseguir o seu primo João Pedro pela casa, enquanto ele dá duas voltas correndo na sala, você ainda está na primeira, morrendo de rir.
Se antes só engatinhando você já aprontava, agora a atenção tem de ser redobrada; você passou a conseguir abrir armários, gavetas, portas, ficando na pontinha dos pés para alcançar os puxadores, abrir tudo e começar o estrago: tirava roupas de dentro das gavetas e armários, jogando tudo no chão, guardava coisas em lugares totalmente diferentes (uma vez achei uma concha de feijão dentro da sua gaveta de meias) e saía arrastando minhas coisas pela casa toda (com predileção por um pijama de bolinhas e sutiãs de bojo).
Os controles remotos da TV/Net/etc. tem que ficar na parte mais alta do rack, porque você tem fascinação por eles e por tudo o que tenha teclas – uma vez você apertou tantos botões no aparelho da Net que travou a programação e ninguém conseguia destravar, tivemos que ligar para a assistência técnica para liberar o sinal novamente...
Ultimamente a sua evolução tem sido conseguir subir e descer escadas. Para irmos ao parquinho do prédio tem uma escadaria enorme e você não quer ir no colo, adora subir sozinho, só de mãos dadas comigo. Na hora de descer é mais complicado porque você quer pular e não descer, aí eu fico com medo de você cair.
No escorregador você gosta de subir tanto pela escadinha de trás quanto pela parte da frente, onde deveria escorregar; segura sozinho e vai subindo, pedindo minha ajuda só quase no alto.
Outra situação sua envolvendo escadas foi quando sua avó resolveu tirar os enfeites de Natal do alto do armário do corredor para decorar a casa; ela abriu a escada de armar, subiu para pegar as caixas com os enfeites e levou pra sala; na terceira vez que fez isso (são muuuuitos enfeites), ao voltar da sala para o corredor deu de cara com você no penúltimo degrau da escada, olhando pra ela e rindo! Ela quase desmaiou de susto quando te viu lá em cima e eu quase desmaiei de susto quando ela me contou!
Agora você descobriu que pode pisar nas coisas, inclusive no pobre do Theodoro, o que já te rendeu duas mordidas de advertência: na primeira você estava de tênis e achou engraçado, mas na segunda vez estava de sandália aí doeu e você chorou... Mas continua tentando pisar no cachorro, porque ele rosna e você acha o máximo.
Estes passinhos são só o começo do seu caminho filho; agora eles são meio inseguros, com alguns tombos e percalços, mas você sempre segue em frente e o importante é você continuar sem medo e manter essa atitude quando outros tombos e percalços aparecerem.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

As canções que você fez pra mim

Engraçado como depois que a gente tem filho tudo tem uma conotação diferente. Por exemplo, tem algumas músicas que antes eu classificava como de amor romântico, mas que hoje tem tudo a ver com o amor materno. “Como é grande o meu amor por você” é uma declaração de amor de mãe pra filho! “In My Life” dos Beatles e "Onde a dor não tem razão" do Paulinho da Viola, também.

Eu sempre gostei de cantar e até que não sou desafinada, então hoje pra mim é um prazer cantar pra você dormir, filho. Meu repertório vai de Ella Fitzgerald a Galinha Pintadinha, passando por Paulinho da Viola, Beatles (claro!) e até Roberto Carlos; Bossa Nova também tem tudo a ver, aquela batidinha mansa, de cantar baixinho é uma verdadeira canção de ninar. Lupicínio, Chico Buarque, Standards do Cole Porter, Gershwin, Frank Sinatra, Gal, Clara Nunes, Marisa Monte, sambinhas e até música de dor de cotovelo, como “Ouça” da Maysa.

Você tem as suas preferidas; da Arca de Noé do Vinícius de Morais, a música do São Francisco te acalma e você sempre sorri quando eu começo a cantar a da Porta. A do Relógio te faz dar risada, acredito que o tic tac soa engraçado pra você. E tem a música da Céu, “Menino Bonito Ai” que eu canto só o refrão e você fica todo cheio, até parece que entende!

De dia é só te colocar no carrinho em frente à janela da sala que você fica olhando as árvores balançando ou os passarinhos e dorme sozinho. Porém, à noite, desde que você aprendeu a ficar em pé no berço você nunca mais dormiu sozinho, eu sempre tenho que sentar com você na poltrona de balanço e cantar pelo menos umas 4 músicas. Eu cantando e você enfiando os dedinhos na minha boca para eu dar umas mordidinhas de leve, até você gargalhar. Então você tenta pegar minhas sobrancelhas, que você acabou de descobrir, até que eu te dou a naninha ou uma fraldinha que tenha etiqueta (você não chupa chupeta, chupa etiqueta!) e você se aconchega no meu colo, fica mexendo na etiqueta e começa a fechar os olhinhos, sempre brigando com o sono (às vezes seu avô me sacaneia e assobia do quarto ao lado, aí você desperta falando “wowô!!).

Tem vezes que você me engana direitinho, eu certa de que você já dormiu, te coloco cuidadosamente no berço e você vira de lado, aí vira de bruços, levanta na maior rapidez e fica pulando no berço – acho que se você já soubesse falar você estaria gritando “Te peguei, hahaha!”.

Você presta bastante atenção quando eu canto e me parece bem ligado em música. Nós fomos na Sala São Paulo, em uma sessão especial do Cinematerna para mães com bebês onde ficamos bem perto dos instrumentistas e você ficou vidrado no violoncelo. Quando eu te dei de aniversário a caixinha de música que toca Hey Jude você também adorou, mas eu não posso cantar Hey Jude pra você dormir, pelo menos não a parte do nanana porque você fica todo aceso - e Hey Jude sempre me emociona...

Hoje eu canto as canções que parecem que foram feitas pra fazer você dormir, mas que eu espero que influenciem o seu gosto musical no futuro, porque gosto musical ruim é imperdoável até pra filho, viu?

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Dia dos Pais

Dia dos Pais

O Dia dos Pais está chegando. Por enquanto você ainda não entende o que isso significa, filho, mas um dia eu sei que você vai questionar. Eu pretendo me preparar para este dia, consultando um profissional, terapeuta, psicólogo, analista, amigos, parentes, os deuses e principalmente minha consciência. Pretendo mais que tudo me colocar no seu lugar e pensar no que é melhor pra você.

Essa é uma situação em que a prioridade é você – na real, depois que você nasceu, você é prioridade em tudo e ponto; não posso levar em consideração nada do que eu senti com tudo o que ocorreu, o que significa que simplesmente não interessa o que passou. Só quero que você saiba que seu genitor sempre foi ciente da sua existência e que a qualquer momento que ele quiser participar dela ele será bem-vindo, como eu sempre deixei claro desde o início da gravidez. Nós nunca mais nos falamos, eu não fiz a menor questão de obrigá-lo a participar do seu nascimento nem de registrar você e espero que você um dia entenda que fiz isso com a melhor das intenções, sem rancor ou represália. Um nome em um campo de um documento não cria vínculo, não cria presença nem forma um pai. Essa atitude tem de vir espontaneamente, de coração, e não por imposição da justiça ou por uma questão de responsabilidade pelos próprios atos.

Como disse uma pessoa querida que viveu a mesma situação, a família se adapta para suprir a falta de um elemento; há uma presença maior dos tios, do avô, dos amigos, todos formando um elo de amor em torno de você. Por enquanto você está muito bem suprido de figura masculina, porque nós moramos com os meus pais e você tem sua cota diária de testosterona e “carinho paterno-vovozal” com o meu pai e eventualmente com seus tios, mas eu tenho me preparado para cumprir o meu papel de mãe e também o de pai. Estou disposta até a jogar futebol com você se for preciso, apesar de saber que ser pai não se limita a isso, mas vou dar o meu melhor.

Vou fazer o possível para que você encare tudo isso com naturalidade, o que acredito que vá ajudar a afastar o preconceito. Atualmente há núcleos familiares super diversos, com dois pais, duas mães, somente um pai, somente uma mãe, então não há que se insistir no velho modelo tradicional quando isso não é possível. Você é filho de uma mãe solo e nem por isso deixamos de ser uma família; não há nenhuma pecha de vergonha nisso, não é certo ou errado, é só diferente, simples assim.

Hoje seu genitor não tem vínculo com a nossa família. Pode ser que um dia vocês estabeleçam este vínculo, ou não. Não sei quais os motivos que o levaram a não fazer parte da sua existência, só sei que eu quis muito que você fizesse parte da minha e por isso você nasceu. E eu quis tanto, mas tanto que quis por mim e por ele, então no Dia dos Pais, eu me sinto no direito de comemorar tanto quanto no Dia das Mães.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Marcos do desenvolvimento

Marcos do desenvolvimento

Filho, eu deveria ter começado a escrever sobre você desde o seu nascimento, para não me esquecer dos marcos do seu desenvolvimento, assim, cada conquista sua seria um post de mãe babona. Como eu não fiz isso, vou ter que fazer um resumão e a partir de agora correr atrás do tempo perdido...

Pouco antes de completar 2 meses de idade, no feriado de 7 de setembro de 2011 você fez sua primeira viagem. Comportou-se muito bem no (longo) caminho de quase 5 horas até o sítio, mamou no Graal, troquei sua fralda no banco do carro mesmo e você dormiu praticamente a viagem inteira, sem nem um resmungo.

A partir daí você passou a dormir a noite toda, sem acordar pra mamar de madrugada, antes mesmo que eu começasse a aplicar as regras do livro “Nana Nenê”, principalmente aquela que dizia pra deixar o bebê chorar; acabei aplicando só as outras para regular mamadas e sonecas, o que deu super certo e funciona até hoje.

Foram mais de 2 semanas no sítio e você adorou; dormia na rede, tomava solzinho na piscina, ficava peladinho por causa do calor. Conheceu os tios, primos e tias-bisavós e deu seu primeiro sorriso de verdade (antes eram só espasmos, mas tão expressivos que eu acreditava que você ria só pra mim). Você engordou a olhos vistos nas duas semanas que passamos no sítio; eu dava mais leite do que as vacas de lá, tadinhas, que sofriam com o pasto seco comum naquela época do ano.

A sua segunda viagem também foi para o sítio, no feriado de 15 de novembro, pra comemorar o aniversário do Vovôveraldo. Desta vez também foram a tia Carol, os tios Fabrício e Roberta e os primos João Pedro e Gabriel. Foi a primeira vez que você entrou na piscina e adorou! Incrível como o reflexo de nadar é presente nos bebês, foi só entrar na piscina e você começou a bater as perninhas e os bracinhos. Também foi desta vez que você aprendeu a rolar pra alcançar os brinquedinhos e começou a dormir de lado.

Você batia altos papos comigo durante as trocas de fralda, principalmente à noite; me olhava bem nos olhos e balbuciava longos discursos na sua linguagem de bebê como se eu estivesse entendendo tudo.
Voltamos para o sítio em dezembro para a festa de bodas de ouro da tia Idelma e do tio Dino, foi o seu primeiro big evento. Durante a missa, você golfou dentro do decote do meu vestido e fez um daqueles seus cocôs que te sujavam até a nuca, e tivemos que ir para o carro te trocar e tomar um banho de lenços umedecidos. Na festa o som estava muito alto e tinha muita gente e você estranhou um pouco, mas só começou a chorar quando deu sua hora de dormir, aí eu te levei para o quarto da pousadinha em frente ao local da festa para ficar com a babá.

Em dezembro você já começou a ficar sentado sozinho, no começo você tombava de lado e de frente, mas aos poucos foi ficando mais firme e ficava um tempão brincando sentadinho. O ensaio para engatinhar foi no começo do ano, você se arrastava na cama dos seus avós, tanto pra frente quanto pra trás, mas quando eu te colocava no chão você se desequilibrava e acabava tombando e batendo a cabeça; aí eu comprei um tapete de EVA e foi só colocar você nele que você saiu engatinhando!

Um dia nós fomos à Avenida Paulista para ver um coral de Natal, você foi no canguru todo encapotado porque por incrível que pareça estava fazendo 13 graus em pleno dezembro, parecia que estávamos indo ver o Natal em NY e não em SP. Você dormiu o tempo todo, quentinho no canguru contra o meu peito. A noite de Natal foi na casa da vovó Lolita e do Vovôveraldo, o vovô se vestiu de Papai Noel e você adorou, ficou acordado até quase 1 da manhã aproveitando a festa com os tios, primos e avós.

Passamos o Ano Novo na casa da tia Susana, com ela, o tio Rogério e a Narizinho, uma sharpei invocada que te ignorou solenemente durante todo o tempo que ficamos lá; você ficava alucinado por ela, que parava de costas pra você bem perto do carrinho, só pra provocar.  

Em janeiro você começou a comer frutinhas bem amassadinhas, adorava pêra e banana, mas não curtia muito maçã e mamão – aos poucos passou a gostar de tudo, até de abacate puro. A papinha salgada foi introduzida em fevereiro, você comia de tudo, beterraba, quiabo, abóbora, inhame, cará, etc., acho que se eu oferecesse sabão você comeria, não estranhava nada! Hoje você anda meio seletivo, tem dias que se contenta só com 3 colheres de comida e me deixa aflita, mas acaba compensando em outra refeição. Isso não se aplica às frutas, você ama qualquer fruta, come tudo e chora inconsolável quando termina – às vezes eu caio na sua chantagem e te dou mais um pouco. Só não abro mão de abolir açúcar, doces e chocolates, porque eu quero evitar que você fique viciado em doces como eu – vamos ver até quando eu consigo te afastar do açúcar...

No Carnaval fomos para o Rio de Janeiro na casa da tia Fe; você ficou alucinado pelo Marujo e pela Domitila, os gatinhos dela. Dava gritinhos de alegria quando eles apareciam e se jogava tentando agarrar os pelos deles (às vezes você era mais rápido do que eu e ficava com as mãozinhas cheias de pelos brancos do coitado do Marujo). Nós fomos ao Jardim Botânico encontrar com a tia Fabi e tio Darius, e você fez sua estréia na boemia da Lapa, enquanto a gente almoçava em um boteco de lá.

Nessa mesma época nasceram dois dentinhos inferiores e você começou a me morder na hora de mamar, a gengiva coçava e incomodava e você descontava no meu peito. Agüentei por mais um mês e depois de uma mordida mais séria comecei a te dar o Aptamil com dor no coração (foi na semana em que você completou 8 meses). Queria ter amamentado por mais tempo, mas o peito ficava muito ferido e isso acabou afetando a produção de leite. Hoje você já está com 4 dentinhos embaixo e 3 dentinhos e meio em cima e quando um dentinho desponta, você baba litros e litros, são vários babadores por dia.

Você é tão encantado por animais que a primeira palavra que você falou foi auau, apesar do seu avô insistir que foi Vovô e que ele até tem gravado no celular, mas quando você não tinha nem 5 meses. Você falou auau quando estávamos chegando no sítio e você acordou com o cachorro latindo. Depois falou vovô e vovó e no Dia das Mães levantou no berço e falou mamã (eu tenho testemunhas!)

Você adora passear, quando alguém abre a porta da rua você fica todo ouriçado. Nós damos uns passeios na Avenida Paulista e no Parque Trianon e também vamos a quase todas as sessões do CineMaterna no Shopping Frei Caneca que é pertinho de casa. Você sempre se comporta direitinho no cinema, assiste um pouquinho do filme, brinca no chão e depois dorme no meu colo.

Cada conquista sua me enche de orgulho, eu sei que é a ordem natural das coisas, mas eu fico tão empolgada quanto a mãe de um atleta olímpico que acabou de ganhar uma medalha.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

O lado negro da gravidez

O lado negro da gravidez

Todo mundo fala que a mulher grávida fica em estado de graça, iluminada, etc. Ninguém fala do lado negro da gravidez. Pode ser que tenha acontecido só comigo, sei lá. A gente fica insegura, sente dor, se sente incomodada, pressionada e com vários sintomas esquisitos, tanto físicos quanto psicológicos.

Eu tive uma fraqueza nas mãos que me deixou de castigo por mais de 40 minutos, em uma noite que resolvi relaxar na banheira enquanto estava sozinha em casa – foram 40 minutos tentando levantar da banheira sem conseguir, porque a barriga não deixava e as mãos não respondiam. Fora os ataques de riso nervoso imaginando a hipótese de dormir na banheira, pelada, com frio e só conseguir sair no dia seguinte quando a empregada chegasse de manhã!

E o sono? Praticamente comatoso, eu entrava no ônibus e antes de rodar 2 quadras já estava dormindo de sonhar. Ah, e eram sonhos esquisitíssimos, um assombro.

Capítulo restrições alimentares; não pode comer peixe cru (a médica liberou comer em restaurantes em que o peixe cru não fosse manuseado no mesmo local que a carne crua; ah tá, ficou fácil...); não pode comer qualquer coisa feita com ovo cru (tipo mousse de chocolate ou maionese caseira ou ovo com gema mole); nada com carne crua ou malpassada; queijo branco; queijos com mofinho, tipo camembert, roquefort, gorgonzola ou brie.

Até o terceiro mês, tive um enjôo que parecia ressaca, ficava o tempo todo mareada. Tudo me enjoava, cheiro de pastel, perfumes doces, produtos de limpeza... E eu sentia todos os cheiros do mundo, meu olfato parecia de cachorro, eu farejava de longe! Sintoma complicado quando você mora em uma cidade como São Paulo. O que melhorava um pouco meu enjôo era suco de maçã Yakult (hoje não posso nem ver a caixinha), biscoito Club Social e chá de gengibre geladinho.

Depois que o enjôo passou, veio a azia. Se eu comia, tinha azia; se não comia, tinha também. E arrotava o tempo todo, parecia um sapo! Que coisa feia, no meio de uma conversa aquela paradinha básica, isso quando dava tempo da paradinha. Magnésia bisurada é outra coisa que eu não posso nem ver, até hoje.

Quando se chega a uma fase que as pessoas tem certeza de que você está grávida e não gorda, vem o incômodo da síndrome da barriga pública. Todo mundo se acha no direito de passar a mão na sua barriga, desde a atendente da farmácia até velhinhas desconhecidas na Avenida Paulista!!!

E quando a barriga aumenta vem a dificuldade para dormir – depois do quinto mês, dormia com 5 travesseiros: 2 para a cabeça, 1 no meio das pernas, 1 na barriga e 1 para as costas; para mudar de posição na cama praticamente precisava chamar um caminhão de mudança, até que minhas irmãs me deram de presente a almofada abençoada que mudou minhas noites: ela era em forma de ponto de interrogação e se encaixava no lugar de todos os travesseiros anteriores (eu apelidei a almofada de Minhocão e meu sobrinho João chamava de almofada de cobra). No final da gravidez, nem o Minhocão resolvia, eu ficava acordada mesmo e dava uns cochilos durante o dia.

Nesta fase, já dá pra sentir o bebê mexendo, dando saltos ornamentais dentro da sua barriga, só que chega um ponto em que não tem mais espaço, então ele se estica e chuta suas costelas, órgãos, etc.. Você tem a impressão que vai parir um ciclista, de tanto que o moleque pedala lá dentro. Ah, e ele tinha soluços também, minha barriga ficava pulando no ritmo em que ele soluçava.

No final da gravidez, os ossos do quadril começaram a doer, porque a bacia foi alargando para o parto – eu realmente precisava de quadris mais largos, legal...

Sua memória vai para o espaço, seu cérebro chega a um nível de emburrecimento incrível, com direito a lapsos, brancos, esquecimento. Mas a emoção fica a flor da pele, tudo te afeta, até os documentários do Discovery Channel sobre a cadeia alimentar na savana africana.

Aí tem os sintomas psicológicos... Como as pirações ligadas ao romanceamento da gravidez. Eu não conseguia conversar com a barriga, me achava meio ridícula e me conformava pensando que o Lucas podia ler meus pensamentos, que ele ia entender. E a piração maior: e se eu não gostasse dele? Pois é, até isso passa pela cabeça, vai que dá um revertério e rola uma rejeição, uma depressão pós parto?

O bom é que a gente esquece tudo o que passou e sofreu no exato momento que a vê a carinha do filho: o lado negro se esvai, deve ser por isso que parir é dar a luz.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O Parto (ou melhor, A Luz)

O Parto (ou melhor, A Luz)

Minha gravidez foi tranquila, apesar dos pesares. Engordei  11 kg (não considero o inchaço de quase 3 kg dos últimos 3 dias antes do parto), tive um enjoo que parecida ressaca nos primeiros 3 meses e desejos de comer qualquer coisa de milho, canjica, bolo, suco, pamonha, curau, pipoca, milho cozido, parecia que estava gerando um galo, que o Lucas ia nascer cacarejando. Tive certeza de que era um menino assim que soube da gravidez, até sonhei com a carinha dele. E o João Pedro, meu sobrinho, escolheu o nome antes de termos certeza do sexo - ele disse que sabia que era um menino, que ia se chamar Lucas e que se fosse menina se chamaria "Burrica"... Lucas ficou, nada mais justo que o João escolhesse o nome do meu filho, sendo que eu que escolhi o nome do meu irmão, pai do João...


Eu queria de qualquer jeito um parto normal. Estava em negociação com o médico, que dizia que o bebê era muito grande (minha barriga estava imensa, todo mundo perguntava se eram gêmeos), mas afinal, fui “cadeiruda” a vida toda pra quê?

Porém, no último ultrassom, o médico verificou que o líquido amniótico estava muito baixo e que eu nem dava sinal de entrar em trabalho de parto, nada de dilatação e nem ao menos o tal do afinamento do colo do útero; se fosse esperar a natureza agir, ainda ia levar uns 10 dias pelo menos, e até lá haveria risco para o bebê com a diminuição do líquido... O médico me liberou do repouso e marcou a cesárea para dali a dois dias, no sábado 16/07 às 10am. Fiquei arrasada, saí do consultório aos prantos de tanta frustração – como assim, estava super preparada para um parto normal e ia ter que entrar na faca? Meu maior receio era a recuperação da cesárea, como ia cuidar de um bebê, levantar de madrugada cheia de pontos? Sem contar a decepção, sentia que estava falhando como mãe, que não me sentiria completa se não passasse por todo o processo, com as dores, contrações e tudo a que tinha direito.

Chequei em casa e andei a Paulista inteira, subi escada, desci escada, só faltei cair no samba pra ver se induzia o parto e nada. O Lucas lá, tranquilão, nem aí pra minha ansiedade. Nem dormi naquela noite, atenta a algum sinal de que estava entrando em trabalho de parto, mas nada. Frustração...

Ao longo do dia fui me acalmando e tomando consciência de que não ia rolar um PN e que o mais importante era a segurança do Lucas, não os meus anseios ou expectativas – afinal isso é o principal de ser mãe, não é? Dormi super bem, como há meses não dormia; acordei calma, serena e feliz porque finalmente veria a carinha do Lucas...

A espera da Luz
Tudo estava pronto (há semanas!), fomos para o Hospital São Camilo para fazer a internação às 07h30min. Apesar de ser inverno, o dia estava lindo, solão brilhando, céuzão azul sem uma nuvem sequer e vários ipês rosa floridíssimos no caminho para o hospital. Fomos todos para o hospital, pai, mãe, Fe, Carol, Nick e a Tia Sueli, que encontrou com a gente lá.

Procedimentos de praxe e a espera. A Fê entrou na sala de parto e foi a primeira da família a ver o Lucas. Eu estava grogue da anestesia, mas quando a enfermeira o mostrou pra mim foi como se tivesse baixado uma luz de consciência e lucidez, eu beijei seu rostinho e disse pra ele “Filho, você é muito bem-vindo, meu amado!”, caí no choro e depois caí no sono, não vi mais nada.

Não falei que ele era lindo?
Lucas nasceu dia 16 de julho de 2011, às 10h38m com 52 cm e 3, 950 kg, um meninão. Era o maior bebê do berçário e também o mais lindo – de verdade!

Voltei para o quarto, meu irmão já estava lá com o meu sobrinho João e foi todo mundo almoçar filé a parmegiana no Degas – e eu em jejum de mais de 12 horas pela anestesia, é só o que eu me lembro. Depois lembro que o Lucas foi pro quarto, pro meu colo, todo fofo, enroladinho e dorminhoco. Todo mundo falava que ele era lindo, e era mesmo, nem parecia recém nascido, parecia já ter 1 mês.

A enfermeira que não vale a pena ter o nome citado tentou fazer com que ele mamasse, sem sucesso e ainda me assustou dizendo que se ele não pegasse o peito ia ter que entrar na mamadeira (aquela #@$%¨&$). Lucas só mamou direito quando a enfermeira Alessandra ensinou a pega correta e deu ótimas dicas, com muita boa vontade, paciência e competência. Aí o moleque grudou no peito e mamou com gosto. Eu também era a própria vaca holandesa, com o peito explodindo de leite.

Tivemos várias visitas no hospital, a Milena com os meninos (o Gui queria pegar o Lucas no colo e quase derrubou o bercinho, rs), Roberta, Bete e Paulo, Tânia e Vicente, Rosana, Tia Martinha e Tio Mauricio, Neusa e Meirelles, Tia Sueli e Tio Paulo com a Bia, Dudu e Ângela, Tia Luca, Cris e Keli, Danila, a Pati Macedo.

Saímos do hospital na segunda-feira na hora do almoço, o Lucas foi todo bonitinho na cadeirinha olhando tudo no caminho. A Fê ficou até o final do mês e das férias dela pra ajudar, foi uma mão na roda.

Lucas foi um bebê muito tranqüilo, só chorava pra mamar, não teve cólica (graças a Deus!), enfim, uma benção. O João escolheu o nome perfeito pra ele - Lucas significa luz, iluminado, luminoso - ele é a luz da minha vida.



Hey Jude, don’t make it bad, take a sad song and make it better

Quando engravidei eu tinha acabado de me separar, estava começando um novo relacionamento (que ainda nem era um relacionamento), meu plano de saúde tinha carência pra parto, estava em um emprego temporário com efetivação confirmada para a virada do ano e prestes a ser contratada para o trabalho dos meus sonhos; tudo conspirava contra! Descobri no dia do show do Paul McCartney no Morumbi, fui pro estádio desesperada, chorei e mal pude aproveitar o show, até que o Paul começou a tocar “Hey Jude, don’t make it bad, take a sad song and make it better”.

I made it better, na minha tradução livre da letra e o Lucas nasceu. Perdi o emprego temporário e o emprego dos meus sonhos (as propostas de efetivação já garantidas anteriormente foram retiradas devido à gravidez), tive que alugar meu apartamento, me desfazer de muitas das minhas coisas, despachar minhas gatas pra casa da minha irmã, voltar pra casa dos meus pais e procurar uma solução para o plano de saúde, fora outros percalços relacionados à ausência total do “genitor”.

Por outro lado, pude curtir a gravidez tranqüila, pude contar com o total suporte da minha família, tive a renda do aluguel do apartamento e da licença maternidade autônoma do INSS, minhas gatas moram no paraíso dos gatos que é a casa da minha irmã veterinária em Ilhabela e um acordo com o plano de saúde liberou a carência para o parto; tudo conspirou a favor! Sem contar todo o amor, apoio e carinho dos meus pais amados, dos meus irmãos e cunhados queridos e dos meus adorados amigos, tios, primos, avó, que estiveram presentes durante todo esse período, pessoalmente ou através de email, mensagens no Facebook, telefone ou mesmo energia positiva.

Hoje o Lucas está fazendo 1 ano e ele é, de longe, a melhor coisa que aconteceu na minha vida; desde que eu vi a carinha dele pela primeira vez, eu percebi que faria tudo de novo e muito mais por aquele serzinho, porque agora eu descobri o que é amor de verdade. 

Foi um longo percurso desde aquele show do Paul McCartney tocando Hey Jude, mas quando o Lucas for maior, ele vai entender porque a festinha de 1 ano dele teve um tema tão inusitado: Beatles!