quarta-feira, 18 de julho de 2012

O lado negro da gravidez

O lado negro da gravidez

Todo mundo fala que a mulher grávida fica em estado de graça, iluminada, etc. Ninguém fala do lado negro da gravidez. Pode ser que tenha acontecido só comigo, sei lá. A gente fica insegura, sente dor, se sente incomodada, pressionada e com vários sintomas esquisitos, tanto físicos quanto psicológicos.

Eu tive uma fraqueza nas mãos que me deixou de castigo por mais de 40 minutos, em uma noite que resolvi relaxar na banheira enquanto estava sozinha em casa – foram 40 minutos tentando levantar da banheira sem conseguir, porque a barriga não deixava e as mãos não respondiam. Fora os ataques de riso nervoso imaginando a hipótese de dormir na banheira, pelada, com frio e só conseguir sair no dia seguinte quando a empregada chegasse de manhã!

E o sono? Praticamente comatoso, eu entrava no ônibus e antes de rodar 2 quadras já estava dormindo de sonhar. Ah, e eram sonhos esquisitíssimos, um assombro.

Capítulo restrições alimentares; não pode comer peixe cru (a médica liberou comer em restaurantes em que o peixe cru não fosse manuseado no mesmo local que a carne crua; ah tá, ficou fácil...); não pode comer qualquer coisa feita com ovo cru (tipo mousse de chocolate ou maionese caseira ou ovo com gema mole); nada com carne crua ou malpassada; queijo branco; queijos com mofinho, tipo camembert, roquefort, gorgonzola ou brie.

Até o terceiro mês, tive um enjôo que parecia ressaca, ficava o tempo todo mareada. Tudo me enjoava, cheiro de pastel, perfumes doces, produtos de limpeza... E eu sentia todos os cheiros do mundo, meu olfato parecia de cachorro, eu farejava de longe! Sintoma complicado quando você mora em uma cidade como São Paulo. O que melhorava um pouco meu enjôo era suco de maçã Yakult (hoje não posso nem ver a caixinha), biscoito Club Social e chá de gengibre geladinho.

Depois que o enjôo passou, veio a azia. Se eu comia, tinha azia; se não comia, tinha também. E arrotava o tempo todo, parecia um sapo! Que coisa feia, no meio de uma conversa aquela paradinha básica, isso quando dava tempo da paradinha. Magnésia bisurada é outra coisa que eu não posso nem ver, até hoje.

Quando se chega a uma fase que as pessoas tem certeza de que você está grávida e não gorda, vem o incômodo da síndrome da barriga pública. Todo mundo se acha no direito de passar a mão na sua barriga, desde a atendente da farmácia até velhinhas desconhecidas na Avenida Paulista!!!

E quando a barriga aumenta vem a dificuldade para dormir – depois do quinto mês, dormia com 5 travesseiros: 2 para a cabeça, 1 no meio das pernas, 1 na barriga e 1 para as costas; para mudar de posição na cama praticamente precisava chamar um caminhão de mudança, até que minhas irmãs me deram de presente a almofada abençoada que mudou minhas noites: ela era em forma de ponto de interrogação e se encaixava no lugar de todos os travesseiros anteriores (eu apelidei a almofada de Minhocão e meu sobrinho João chamava de almofada de cobra). No final da gravidez, nem o Minhocão resolvia, eu ficava acordada mesmo e dava uns cochilos durante o dia.

Nesta fase, já dá pra sentir o bebê mexendo, dando saltos ornamentais dentro da sua barriga, só que chega um ponto em que não tem mais espaço, então ele se estica e chuta suas costelas, órgãos, etc.. Você tem a impressão que vai parir um ciclista, de tanto que o moleque pedala lá dentro. Ah, e ele tinha soluços também, minha barriga ficava pulando no ritmo em que ele soluçava.

No final da gravidez, os ossos do quadril começaram a doer, porque a bacia foi alargando para o parto – eu realmente precisava de quadris mais largos, legal...

Sua memória vai para o espaço, seu cérebro chega a um nível de emburrecimento incrível, com direito a lapsos, brancos, esquecimento. Mas a emoção fica a flor da pele, tudo te afeta, até os documentários do Discovery Channel sobre a cadeia alimentar na savana africana.

Aí tem os sintomas psicológicos... Como as pirações ligadas ao romanceamento da gravidez. Eu não conseguia conversar com a barriga, me achava meio ridícula e me conformava pensando que o Lucas podia ler meus pensamentos, que ele ia entender. E a piração maior: e se eu não gostasse dele? Pois é, até isso passa pela cabeça, vai que dá um revertério e rola uma rejeição, uma depressão pós parto?

O bom é que a gente esquece tudo o que passou e sofreu no exato momento que a vê a carinha do filho: o lado negro se esvai, deve ser por isso que parir é dar a luz.

8 comentários:

  1. Muito legal! A gente realmente não pensa nessas coisas que você colocou, tipo "barriga pública", mas é isso mesmo. O povo vai passando a mão sem pedir licença.

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  2. Não sou mãe...
    ...mas adorei o texto, e fiquei imaginando todas essas situações.

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  3. Nossa, estou vivenciando todos esses sintomas e parece que não vão passar nunca! Amei o texto!

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  4. Muito bom.
    Não sou mãe ainda, mas consegui realizar todas as cenas (ri muito em algumas) a partir de seus relatos.

    Acho bom providenciar uma almofada dessas tipo minhocão.
    Hehehehe

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  5. Estou grávida pela segunda vez... lembro de ter passado por tudo isso da primeira vez e agora, que ainda é comecinho, ainda não passei por todas, mas algumas já começaram... ri bastante e chorei com seu texto, pelo simples fato de não conseguir controlar as lágrimas nem com documentários do Discovery (rsrsrs)... Parabéns!

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  6. Estou grávida pela segunda vez... lembro de ter passado por tudo isso da primeira vez e agora, que ainda é comecinho, ainda não passei por todas, mas algumas já começaram... ri bastante e chorei com seu texto, pelo simples fato de não conseguir controlar as lágrimas nem com documentários do Discovery (rsrsrs)... Parabéns!

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  7. Me identifiquei muito nesse texto. Todos que já li sempre tratam a gravidez como uma coisa super maravilhosa! Quero simplesmente socar quem fala essas coisas!

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